quinta-feira, 24 de maio de 2012

UM ANJINHO QUE CAIU LÁ DO CÉU!...


Este texto meu pai escreveu quando o Gabriel saiu da UTI e foi para casa, foi a forma que encontrou de contar aos amigos e familia o que tinha acontecido!


UM ANJINHO QUE CAIU LÁ DO CÉU!...


Nunca vi pais que se preparassem tanto para receber um filho! Márcio e Marina passaram os últimos oito meses se preparando para a realização de um sonho. Fizeram cursos, leram livros e artigos, consultaram especialistas, prepararam sua casa e viveram intensamente cada minuto e cada segundo dessa espera.
Era um menino, então, escolheram seu nome: Gabriel. Gabriel foi o anjo que anunciou à Maria que conceberia o filho de Deus. Toda vez que se rezamos uma “Ave Maria”, fazemos nossas, as suas palavras.
Mas, Márcio e Marina foram abandonados por especialistas, no momento em que mais precisaram deles. Traídos em sua confiança, viram-se vitimados pelo pouco caso e pela ambição, em um mundo que só zela pelo interesse individual e pela competição.
Gabriel chegou e, por cerca de vinte dias, lutou para permanecer ao lado dos pais que escolheu. Lutou, creio eu, porque estava certo de que sua escolha era a melhor!
Márcio e Marina fizeram por merecer essa confiança. Lutaram contra a desesperança e, a cada lágrima derramada, confirmavam o imenso desejo por essa criança. A cada mau prognóstico dado pelos médicos, potes e mais potes do leite de Marina abarrotavam o depósito da UTI. Compartilhando cada momento, afirmavam o grande amor que os une.
Formou-se uma corrente para salvar Gabriel. Sua bisavó reforçou as orações. Amigos e amigas, tios e tias, primos e primas, avôs e avós, o irmão e a cunhada uniram-se para expressar sua solidariedade e compaixão. A avó Neide, em especial, demonstrou força e coragem, colocando-se de corpo e alma na luta para minimizar a dor e o sofrimento.
Gabriel é um menino especial! Não apenas por necessitar de cuidados especiais. Mas, por nos presentear com os mais puros sentimentos. Só não pode despertar em nós, qualquer sentimento de pena, culpa ou vergonha. Desde muito cedo, já nos enche de orgulho e satisfação!
Gabriel é, na verdade, um anjinho que caiu lá do Céu! Que despertou em cada um de nós, aquilo que temos de mais humano: o amor e a solidariedade.
Márcio e Marina também são especiais! Não apenas pelo fato de serem tão queridos e amados por tantas pessoas. Mas, por serem os escolhidos de Gabriel!
Que bom que nos escolheu, Gabriel! Nós amamos você!
É só o que tenho a dizer... Do avô Zé em 11/04/2011.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A inutilidade da criança, por Rubem Alves

 O pai orgulhoso e sólido olha para o filho saudável e imagina o futuro.
- Que é que você vai ser quando crescer?
Pergunta inevitável, necessária, previdente, que ninguém questiona.
- Ah! Quando eu crescer, acho que vou ser médico!
A profissão não importa muito, desde que ela pertença ao rol dos rótulos respeitáveis que um pai gostaria de ver colados ao nome do seu filho (e ao seu, obviamente)... Engenheiro, Diplomata, Advogado, Cientista...
Imagino um outro pai, diferente, que não pode fazer perguntas sobre o futuro. Pai para quem o filho não é uma entidade que “vai ser quando crescer“, mas que simplesmente é, por enquanto ... É que ele está muito doente, provavelmente não chegará a crescer e, por isso mesmo, não vai ser médico, nem mecânico e nem ascensorista.
Que é que seu pai lhe diz? Penso que o pai, esquecido de todos “os futuros possíveis e gloriosos“ e dolorosamente consciente da presença física, corporal, da criança, aproxima-se dela com toda a ternura e lhe diz: “Se tudo correr bem, iremos ao jardim zoológico no próximo domingo...“
É, são duas maneiras de se pensar a vida de uma criança. São duas maneiras de se pensar aquilo que fazemos com uma criança.
Eu me lembro daquelas propagandas curtinhas que se fizeram na televisão, por ocasião do ano da criança deficiente, para provar que ainda havia alguma esperança, para dizer que alguma coisa estava sendo feita. E apareciam lá, na tela, as crianças e adolescentes, cada uma excepcional a seu modo, desde Síndrome de Down até cegueira, e aquilo que nós estávamos fazendo com eles... Ensinando, com muito amor, muita paciência. E tudo ia bem até que aparecia o ideólogo da educação dos excepcionais para explicar que, daquela forma, esperava-se que as crianças viessem a ser úteis, socialmente... E fiquei a me perguntar se não havia uma pessoa sequer que dissesse coisa diferente, que aquelas escolas não eram para transformar cegos em fazedores de vassouras, nem para automatizar os mongolóides para que aprendessem a pregar botões sem fazer confusão... Será que é isto? Sou o que faço? Ali estavam crianças excepcionais, não-seres que virariam seres sociais e receberiam o reconhecimento público se, e somente se, fossem transformados em meios de produção. Não encontrei nem um só que dissesse: “Através desta coisa toda que estamos fazendo esperamos que as crianças sejam felizes, dêem muitas risadas, descubram que a vida é boa... Mesmo um excepcional pode ser feliz. Se uma borboleta, se um pardal e se uma ignorada rãzinha podem encontrar alegria na vida, por que não estas crianças, só porque nasceram um pouco diferentes ...?“
Voltamos ao pai e ao seu filhinho leucêmico.
Que temos a lhes dizer?
Que tudo está perdido? Que o seu filho é um não-ser porque nunca chegará a ser útil, socialmente? E ele nos responderá: “Mas não pode ser... Sabe? Ele dá risadas. Adora o jardim zoológico. E está mesmo criando uns peixes, num aquário. Você não imagina a alegria que ele tem, quando nascem os filhotinhos. De noite nós nos sentamos e conversamos. Lemos estórias, vemos figuras de arte, ouvimos música, rezamos... Você acha que tudo isto é inútil? Que tudo isto não faz uma pessoa? Que uma criança não é, que ela só será depois que crescer, que ela só será depois de transformada em meio de produção?“
E eu me pergunto sobre a escola ... Que crianças ela toma pelas mãos?
Claro, se a coisa importante é a utilidade social temos de começar reconhecendo que a criança é inútil, um trambolho. Como se fosse uma pequena muda de repolho, bem pequena, que não serve nem para salada e nem para ser recheada, mas que, se propriamente cuidada, acabará por se transformar num gordo e suculento repolho e, quem sabe, um saboroso chucrute? Então olharíamos para a criança não como quem olha para uma vida que é um fim em si mesma, que tem direito ao hoje pelo hoje... Ora, a muda de repolho não é um fim. É um meio. O agricultor ama, nas mudinhas de repolho, os caminhões de cabeças gordas que ali se encontram escondidas e prometidas. Ou, mais precisamente, os lucros que delas se obterão...utilidade social.
Reconheçamos: as crianças são inúteis...
Entre nós inutilidade é nome feio. Já houve tempo, entretanto, em que ela era a marca de uma virtude teologal. Duvidam? Invoco Santo Agostinho, mestre venerável que declara em De Doctrina Christiana: “Há coisas para serem usufruídas, e outras para serem usadas.“ E ele acrescenta: “Aquelas que são para serem usufruídas nos tornam bem-aventurados.“ Coisas que podem ser usadas são úteis: são meios para um fim exterior a elas. Mas as coisas que são usufruídas nunca são meio para nada. São fins em si mesmas. Elas nos dão prazer. São inúteis.

Uma sonata de Scarlatti é útil? E um poema? E um jogo de xadrez? Ou empinar papagaios?

Inúteis.

Ninguém fica mais rico.
Nenhuma dívida é paga.
Por que nos envolvemos nessas atividades, se lhes faltam a seriedade do pragmatismo responsável e os resultados práticos de toda atividade técnica? É que, muito embora não produzam nada, elas produzem o prazer.
O primeiro pai fazia ao filho a pergunta da utilidade: “Qual o nome do meio de produção em que você deseja ser transformado?“ O segundo, impossibilitado de fazer tal pergunta, descobriu um filho que nunca descobriria, de outra forma: “Vamos brincar juntos, no domingo?\'“
E as nossas escolas? Para quê?
Conheço um mundo de artifícios de psicologia e de didática para tomar a aprendizagem mais eficiente. Aprendizagem mais eficiente: mais sucesso na transformação do corpo infantil brincante no corpo adulto produtor. Mas para saber se vale a pena seria necessário que comparássemos os risos das crianças com os risos dos adultos, e comparássemos o sono das crianças com o sono dos adultos. Diz a psicanálise que o projeto inconsciente do ego, o impulso que vai empurrando a gente pela vida afora, essa infelicidade e insatisfação indefinível que nos faz lutar para ver se, depois, num momento do futuro, a gente volta a rir... sim, diz a psicanálise que este projeto inconsciente é a recuperação de uma experiência infantil de prazer. Redescobrir a vida como brinquedo. Já pensaram no que isso implicaria? É difícil. Afinal de contas as escolas são instituições dedicadas à destruição das crianças. Algumas, de forma brutal. Outras, de forma delicada. Mas em todas elas se encontra o moto:
“A criança que brinca é nada mais que um meio para o adulto que produz.“ ()
Fonte: Estórias de quem gosta de ensinar, obra de Rubem Alves.
Disponível no site do autor: A Casa de Rubem Alves

quinta-feira, 15 de março de 2012

E viva o Gabriel!

Hj faz um ano...
Um ano do que era pra ser o dia mais feliz da minha vida...
Faz um ano que sei o que é amor... um ano que brigo todos os dias com a minha cabeça para q o medo não fique maior do que o amor...
Faz um ano que aprendi o que é fé e milagre, o que é força e o que é vontade de viver!
Aprendi que por mais que tenhamos certeza que não, as coisas podem dar errado...
Aprendi que as vezes o silencio é a melhor resposta...
Aprendi o valor de um pequeno gesto e de um simples sorriso!
Aprendi que a vida é simples e que a felicidade pode estar onde nunca imaginamos!
Obrigada por ter me escolhido filho! Obrigada por ter decidido ficar e me dar essa chance! obrigada por me amar e por tudo que tem me ensinado, obrigada por sua alegria, por seu sorriso, por sua força, pela forma leve que vive!... e principalmente por sua paciencia...
Nunca pude imaginar e me preparar para passar tudo que passamos... mas cada dia mais vc me mostra o tanto que vale a pena!
Me desculpe se as vezes tenho medo, preconceito ou se por um segundo chego a duvidar... mas mesmo qdo erro, estou tentando fazer o melhor... as vezes tentando te proteger, acabo te privando... mas prometo q ainda vou acertar essa dose!
te amo mais do que tudo! Vc deu sentido a minha vida! E se vc não desiste, quem sou eu para desistir?! E se diante da dificuldade vc sorri, quem sou eu?...
Parabéns filho! Que Deus te abençoe e proteja sempre!
Te amo!
Mamãe...